Episódios com a religião.
Artigo submetido por um leitor do Livres Pensadores.
Eu com minha namorada, anos atrás, noite de natal com a família dela.
Ela já havia combinado com “minha sogra” que não iríamos participar da reza, só das outras atividades porque, eu, como vocês sabem, não acredito nem em fantasminhas camaradas.
Começaram as orações, fomos para outra parte da casa, um terraço, ficamos lá comendo avelãs e trocando uns beijos enquanto rolava aquela reza chata.
Logo depois, uma pessoa da família se aproximou, com cara de bronca, quase alterada, mal-humorada mesmo.
– Por que vocês fazem isso? Posso saber por que esse desrespeito?
Não era desrespeito nenhum, já tínhamos combinado que não iríamos participar, estava tudo acertado previamente, só isso.
Seguiram-se outras falas sem razão ser, envolvendo palavras como desrespeito, arrogância etc .etc., enfim, nada do que éramos, nada do que fazíamos, uma porção de palavras vazias, era como se ela estivesse falando com outra pessoa, um fantasma que não estivesse ali, uma entidade arrogante e desrespeitosa, com todas as qualificações que ela tinha escolhido para nos classificar..Eu e minha namorada quase nos entreolhamos, intrigados.
Como última “argumentação”, ela disse:
– Mas o que é que custa?
Essa pergunta me acompanhou a vida inteira em contextos como esse. O que é que custa participar da reza? O que é que custa pedir uma graça, fazer uma promessa, até mesmo acompanhar uma excursão, uma romaria…?
(Eu, sinceramente, adoraria fazer o caminho de Santiago de Compostela, deve ser um lugar belíssimo.)
Mas voltando à resposta: custa a minha liberdade de pensar.
Custa o meu direito de decidir.
Custa o prazer de estar com minha namorada em vez de me entediar com coisas aborrecidas que não significam nada para mim.
Custa, enfim, o meu livre-arbítrio (do qual os religiosos tanto insistem em nos lembrar).
E também não custava nada devolver a pergunta:
– O que é que custa a vocês realizar todo o ritual sem nós?
Postado por Perce Polegatto
Artigo submetido por um leitor do Livres Pensadores.